As eleições e as mídias sociais

A internet foi indubitavelmente um campo muito disputado nestas eleições presidenciais. Os números demonstram isso. No Facebook, Dilma Rousseff tem um perfil com 4.882 amigos e uma página curtida por 15.889 pessoas. Sua comunidade oficial no Orkut conta com 23.290 membros. Além dos 272.595 seguidores no Twitter. 

José Serra chegou antes nas mídias sociais. Seus números refletem esta aposta. No Facebook 29.963 pessoas curtiram sua página. Sua comunidade oficial no Orkut conta com 148.153 membros. Fora os 3 perfis lotados, totalizando 2.791 amigos. No Twitter José Serra conta com 526.030 seguidores.

Ambos os candidatos têm blogs oficiais, só que sem cara de blog. É interessante como houve a tentativa de aproximação entre as candidaturas e os usuários de internet. Após o caso Barack Obama a internet ganhou status de primeiro plano nas campanhas. No Brasil, parece que os presidenciáveis perceberam o quão estratégico era investir neste meio de comunicação.

A pergunta que fica é onde ficou o espaço para a comunicação? Se você entrar no blog www.serraescreve.blogspot.com, por exemplo, não há como fazer comentários. O www.dilma13.com.br e suas notícias com cara de release de imprensa não tem cara nenhuma de blog, por mais que os petistas o referenciem como blog.

No Twitter, a Dilma simplesmente não responde quase nada. O Serra só usa Twitter nas madrugadas. Alguém já pensou no hiato que fica durante todo o dia? Será que eles realmente aprenderam algo com a campanha do Obama? Difícil acreditar.

As redes sociais influenciam a aceitação ou rejeição dos candidatos. A internet é um veículo interativo e colaborativo. É um local onde as pessoas querem conversar. Dizer e ser ouvido. Oferecer e receber feedback. As mídias sociais estão sendo marcadamente empregadas como ferramentas eleitorais, e não como canal de diálogo com a sociedade.

Com o advento da internet na campanha eleitoral brasileira, os candidatos ganham poder renovado. Surgiu a possibilidade de falar abertamente com o povo. Facebook, Twitter, YouTube, Orkut, Flickr, entre outros, trouxeram democracia qualificada para estas eleições. Todavia, aqui segue o axioma: uma coisa é ter a ferramenta, outra é saber como usar.

Houve quem chegasse no Twitter dizendo que iria “fazer muito discurso”, queria sim “trocar ideias, ouvir sugestões”. Como fazer isto sem a concretização da comunicação que é o feedback? Gerar conteúdo direcionado apenas para quem já apoia é fácil e está longe de ser uma escolha inteligente. A quantidade de pessoas indecisas é enorme. Mas será que algum dos candidatos pensou nesta parcela da população?

Os eleitores da Marina Silva podem decidir o futuro desta eleição. Mas se fossem trabalhados, os indecisos tem potencial muito maior de decisão. As abstinências não param de crescer. Mas em vez de se preocuparem com isto, os candidatos preferem declarar guerra e trocar acusações, cavando episódios que nada tem a ver com estas eleições e em nada acrescentam para a campanha de cada um.

As redes sociais influenciam. É uma forma dinâmica de transmitir e receber informações sobre os candidatos. O diálogo entre os usuários pode fundamentar posições até então indeterminadas. As redes ainda são ponto de encontro com formadores de opinião. Nelas é possível a mobilização em prol de uma causa, desde que embasada ou simplesmente interessante. O poder de influenciação ou sugestão de tais ferramentas é ímpar.

No entanto, este sugestionamento é muito relativo se for levado em consideração o trabalho que poderia ser feitos nas mídias sociais. As comunidades criadas possuem fóruns que beiram a inércia. O debate não é fomentado. O que importa são os números, a quantidade de pessoas associadas aquele perfil em particular. É deveras útil ampliar a visibilidade, mas sem interação o impacto da visibilidade gerada fica muito aquém do que as mídias sociaistêm a oferecer.

Alguns sites muito bons foram criados ao longo da campanha. Em certos blogs pode-se encontrar muito conteúdo qualificado oriundo de diversas mídias. Só que inacreditavelmente, o conteúdo está criado, publicado, entretanto, não é divulgado. Será que os responsáveis pelas campanhas digitais dos presidenciáveis não perceberam a importância da sinergia da informação para ampliação da visibilidade e devido proveito do conteúdo gerado?

De modo geral, há uma grande desorganização na divulgação das informações. É muito provável que nem Dilma Rousseff, nem José Serra tenham conhecimento de todos os recursos de suas campanhas digitais. Os agentes de mobilização são ignorados e/ou subestimados.

Falhas existem aos montes. Todavia, aos trancos e barrancos, as interações entre presidenciáveis e o povo estão acontecendo. E o local ideal para isto são as mídias sociais. Hoje a influência dá-se muito mais pela coleta de informação por parte do usuário em tais ferramentas, do que pela interação propriamente dita com os candidatos. 

A internet possibilita questionamento, e é difícil encarar algumas coisas. A comunicação é horizontal dentro das redes sociais. É diferente. E, portanto acarreta exigências diferenciadas aos candidatos. Trata-se de um canal para o diálogo aberto. O público está online. E está cansado de só ouvir pela TV e rádio. E na internet este público tem voz, pode falar. 

A internet talvez seja uma esperança para uma democracia verdadeira. Mas a comunicação digital ainda tem muito que amadurecer. Ainda estamos longe de poder medir o real poder de influência que as mídias sociais podem exercer sobre os eleitores brasileiros. Mas isso, algum dia vai mudar...

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