sábado, 4 de abril de 2009 Tags: 2 comentários

REFLEXÕES SOBRE INDÚSTRIA CULTURAL


Na década de 1930, Max Horkheimer fazia releituras sobre Karl Marx, Friederich Hegel e Arthur Schopenhauer, e destas experiências de raciocínio foi delineando-se a Teoria Crítica. No Instituto de Pesquisas Sociais seria lançado o gérmen da aproximação intelectual dos mais diversos entusiastas do comportamento crítico em relação à sociedade. Nascia a “Escola de Frankfurt”.

Max Horkheimer seria diretor do Instituto de Pesquisas Sociais de 1930 até 1958. Ele via a necessidade de interessar mais pela sociedade vista racionalmente. Deveria haver justiça do , em prol do, e pelo todo. Com uma leitura bem articulada da obra de Karl Marx, Horkheimer assume comportamento crítico em relação à sociedade, e mais ainda em relação à cultura moderna. A contemporaneidade trouxe consigo exploração potencial dos mecanismos que compõe a cultura.

Mas se Karl Marx foi um dos pólos de embasamento para a Teoria Crítica, outro igualmente importante foi Sigmund Freud. Os teóricos da “Escola de Frankfurt” elaboram uma aproximação dinâmica da leitura sociológica do autor de "O Capital " com os avanços psicanalíticos do ilustre desbravador do inconsciente. Isto tudo numa roupagem crítica, cuja utilização sempre tinha em vista uma sombra ameaçadora: o capitalismo.

Horkheimer gritava em prol da emancipação intelectual das pessoas, assim como Karl Marx reivindicara a emancipação econômica do proletariado. Todavia, Horkheimer não encontrou uma possibilidade real de levar a sociedade a revolucionar-se. A emancipação pretendida parecia cada vez mais distante, visto que a sociedade de modo geral parecia dirigir-se com passadas firmes rumo a uma situação de barbárie.

Analisando o momento histórico destas conclusões de Horkheimer, não é difícil entender parte do que o conduziu a elas. Ele fora testemunha ocular do florescimento do nazismo, e na mesma época emergia o stalinismo. Seriam exemplos irrevogáveis da barbárie para a qual as pessoas decidiram orientar-se.

Nas primeiras páginas da Dialética do Esclarecimento (obra imponente escrita em conjunto com Theodor Adorno) conta que ambos desejam investigar o porquê da humanidade estar “se afundando em nova espécie de barbárie”. Afinal, deveria haver emancipação ou verdadeira humanidade, porém não havia. Em vez de progredir mediante as “luzes da razão”, as pessoas preferiam retroceder rumo à selvageria. Por quê?

Aqui é interessante voltar o olhar para um conceito caro a Horkheimer: a razão instrumental. Esta se trata de uma racionalidade formal, pela relação entre meios e fins. No entanto, a razão instrumental interessa-se tão somente pelos meios, visto serem eles que ocasionam os fins. A razão é assim analisada para sê-la considerada como uma ferramenta direcionada para a obtenção de fins. A razão instrumental é transformadora, e mais do que isto, é dominadora. O homem emprega a técnica para transformar a Natureza com intuito de subjugá-la.

É uma razão subjetiva, pois seus critérios constroem-se a partir do sujeito. É em vista dela que Horkheimer identificou o declínio do indivíduo que rumo decididamente em direção à barbárie. A razão reduz-se a mero instrumento, perdendo seu caráter primordial. O subjetivo desta racionalidade culmina em alienação. Então, o subjetivo desnuda-se de sua própria subjetividade. Nasce então um automatismo dos indivíduos em relação à sociedade. Assim o homem racional vai desconstruindo sua própria racionalidade.

Mas Horkheimer sempre caminha entre duas margens. A Teoria Crítica visa opor-se à Teoria Clássica, despida de ousadia analítica e racionalidade objetiva. Aliás, ao conceito de razão instrumental (ou subjetiva), opor-se-á a razão objetiva. Quando o sujeito extrai princípios da realidade conhecida e transformada por ele, quando visa o mundo em vez de reprimi-lo, visualizando a si mesmo como parte deste todo. A razão instrumental é, portanto exclusiva e deturpadora; a razão objetiva, no entanto é inclusiva e fidedigna.

Seguindo seu próprio caminho Horkheimer tece diagnósticos sócio-culturais, seguindo a alguma distância o legado de Karl Marx. Sua abordagem, assim como a dos demais teóricos da “Escola de Frankfurt”, vai concomitantemente aproximando-se dos conceitos elaborados por Freud. Sinal disto são as investigações que Horkheimer faz sobre a autopreservação do ser humano, e seu impacto no declínio do indivíduo. Este se desfaz na coletividade. É a diluição da individualidade. Tudo passa a ser igual, sem diferenças, padronizado, normalizado. Aniquila-se a identidade pessoal.

A vistoria clínica que Horkheimer arquiteta para a coletividade culmina com o pessimismo de que não há solução para a atuação da Indústria Cultural. Seus mecanismos estão reduzindo a espontaneidade inerente a cada sujeito. A criatividade está sendo sacrificada em prol da normalização massiva da população. Esta autoconservação aponta para possibilidades assustadoras, para a pré-história, para antes da organização sociológica, para um capitalismo sem liberdade, para uma burocracia deturpada.


A razão mudou de lado. Tornou-se irracional. Perdeu sua autonomia. Impotente, o indivíduo assiste a tudo, submisso e adaptado a tudo o que a Indústria Cultural lhe entrega. Eis uma olhadela assaz célere sobre considerações e análises de Max Horkheimer, sua Teoria Crítica e a senda intelectual para a formulação da Indústria Cultural.