Hoje trago um assunto relativamente díspar para o nosso blog. Passei parte do meu final de semana em um velório. Depois de quase 10 anos retornei a um cemitério, mesmo prenunciando que não volveria se não fosse caso extremo. Fazia algum tempo que não via e sentia tantas doses dor pairando ao meu redor.
Uma vida se foi. Mas vidas não se extinguem o tempo todo? Sim! Mas algumas vezes é diferente. Creio que não temos experiência real da nossa finitude propriamente dita. Pelo menos cientificamente não. Só percebemos a limitação do outro. A forma como isso afeta a cada pessoa permite que cada um construa seu próprio conceito de extinção.
Às vezes a morte de outrem mexe conosco. A empatia entra em ação. Sentimos compaixão. Dói, mesmo sem que seja parente nosso. Machuca, mesmo sem ter conhecido efetivamente. Incomoda, mesmo sem ter um por que. Mas por que é assim?
Somos seres humanos. Temos falhas e qualidades. Não sabemos lidar com tudo, por mais maduros e preparados que possamos ser (ou parecer). Não raro, a dor aproxima as pessoas. Quero proteger quem perante os meus olhos parece frágil. No outro lado da moeda, bate a indignação, a vontade incontrolada de querer resolver as coisas, de mudar, de proceder com a devida retaliação.
Todavia, como é difícil ser humano. Descobrir a medida necessária entre pensamentos, emoções, desejos, objetos, fatos, pessoas, relações. Aristóteles dizia que a virtude está no meio. No entanto, há quem ensine que não devemos oscilar entre extremos (consta na Bíblia). Quente ou frio, morno não! Qual caminho tomar? Nenhum deles é reto, ou não apresenta garantias. Como escolher? Direção? Tempo? Prazer? Dor? Justiça?
Qual será mais justo? Justo? Mas dizem que a Justiça é cega. Ou melhor, ela fecha os olhos. Em parte, para não se responsabilizar dos próprios atos. Se o Direito respondesse por si mesmo, talvez criasse um paradoxo. Possivelmente teria de julgar e prender a si próprio. Diante desta impossibilidade, a Justiça permanece cega. Por isso, os excluídos ou ignorados pela justiça dos homens tem que gritar para tentar ser ouvidos.
O velório em que eu estive presente findou com um grito. Algumas pessoas ouviram. Outras viram. Uns poucos vão se recordar ao longo da semana, do mês, do ano. Outros irão lembrar-se sempre. A dor aos poucos irá melhorar, mas indubitavelmente não passará. No entanto, o grito em uníssono, as lágrimas reunidas e o sentimento compartilhado, tudo isso gravarão marcas permanentes nas pessoas.
A vida não é vã, por mais que se encontrem vazios durante ela. É deveras valiosa em todos os instantes que vivenciamos, e que preenchem nosso ser. O fim de semana foi um momento peculiar, porém singelo. Talvez não faça diferença para quem não assistiu, ou observou e não entendeu do que se tratava. Ou quem sabe faça toda a diferença para quem esteve lá enxergou e sentiu, e para quem não estava, mas quem sabe pode encontrar-se com o passado ao ler ou ouvir e avistar pela imaginação.
O importante é o que fica. O presente caminha. Então, até a próxima postagem...
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