segunda-feira, 20 de outubro de 2008 Tags: 0 comentários

DEMOKRATÍA

A Grécia do período áureo, do século de ouro de Péricles, nos deu um modelo ideal de convivência em sociedade. Os gregos falavam em “demokratía”. Uma espécie de soberania popular. Todavia, hoje democracia soa dicotômico. Soberania popular? Existirá realmente?

Primeiramente, o que é um governo democrático? Alguns dizem que é a soberania que emana do povo, ou que a ele pertence. Talvez seja o sistema político que se adapta aos interesses do povo. Então democrático é aquilo que convive harmoniosamente com todas as classes sociais. Mas isto acontece?

Seria o nosso sistema democrático uma idealização? Talvez recordação de períodos sublimes do passado, hoje presentes apenas em pensamento? É indubitável a sensação de que a democracia não está funcionando. Por que é assim? Tem que ser assim? Faz parte da soberania popular?

Os estadistas são representantes do povo. Nós os indicamos. Os elegemos. Sem o nosso aval, nada são. Afinal, o Brasil é uma democracia, e quem manda é o povo. Não é? Tentam nos fazer acreditar nisto. Na realidade, estamos condicionados até os pescoços. Compram nossas crenças com vãs esperanças e elaboradas jogadas de marketing. E nós, temos consciência imediata disto?

As pessoas vivem em sociedade. Esta convivência engendra uma consciência coletiva. Existe um instinto coletivo social inato, que desperta através das relações interpessoais. Porém, é tão maltratado, tão influenciado e persuadido, deveras manipulado, que se perde dentro de um caldeirão de pulsões e futilidades. Triste época a nossa: aprendemos a ler e escrever, para não aprender a votar! Sem contar os que aprendem, para logo após, esquecer. O analfabetismo político é muito denso, quando nos aperceberemos disto? Quando nos tornaremos cônscios da situação em que vivemos? Do poder de nossas escolhas?

Esquecemos que tudo o que é político (do grego “politikós”), é próprio da “polis” grega, da “civitate” latina, das cidades brasileiras. O político representa a cidade (o homem é um ser político, já dizia Aristóteles). A cidade é o recinto do povo. Logo, o político representa o povo. E se representa, merece atenção do mesmo. O futuro da sua cidade, o seu futuro, ele é mensurável. E tem a extensão do seu voto. Vale tanto quanto ele. É importante ter consciência disto.

Aqui é oportuno citar o Código Eleitoral: “Todo poder emana do povo e será exercido em seu nome, por mandatários escolhidos, direta e secretamente, dentre candidatos indicados por partidos políticos nacionais, ressalvada a eleição indireta nos casos previstos na Constituição e leis específicas.”(Art. 2º)

“Todo poder emana do povo e será exercido em seu nome”. Eis um princípio democrático. No entanto, é preciso que o povo o conheça e faça-o valer, que lute por ele. Não podemos acatar uma democracia utópica. Se a soberania é popular, ela tem que atingir o povo. Na verdade, em termos de Brasil, nos últimos anos algumas coisas realmente melhoraram. Só que ainda é pouco perto do que pode e/ou deve ser. Não podemos permanecer uma pátria de analfabetos políticos para sempre. Quinhentos anos se passaram, e onde está a consciência política? Nosso consciente social coletivo não pode continuar recalcado. Este poder emana do povo não pode ter outra fonte que não o povo. E o próprio povo deve regulá-lo.

A “demokratía” pertence aos gregos. Construamos a nossa democracia, brasileira e real. Caso contrário, queimemos todos os livros de economia e ciência política que versão sobre o assunto, pois se não atingir efetividade real, este modelo não passará de uma atualização da civilização imaginada por Thomas Morus (e será mais adequado mudar o paradigma). Uma Utopia (do grego “ou” + “topos”, a negação de um lugar, ou seja, em lugar nenhum). Será este o propósito da democracia? Apontar para lugar nenhum? A resposta pertence ao tempo, e às escolhas de um povo, consciente ou não...

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